eu de mim

31 maio 2006

quarta 2


falta pouco tempo pra que essa coisa toda se desfaça num desenho corrompido de pós-modernidade. e o que é pior, em plena quarta-feira. foi o tempo de toda quarta ser a quarta-feira. coisa pessoal. coisa privada. sentimento arredio diante dos compromissos matemáticos do tempo. queria mais é que aquela aula de matemática se desfizesse diante da gente. aquela verborragia de números, sentenças e fórmulas de nada me serviram. mas enfim, chegou a física, redimindo a minha ignorância diante daqueles cálculos imorais. tudo em reta. ângulo. tudo em prima. tudo pra que minha ignorância fosse colocada ao quadrado. minha soma de arrependimento diante daquelas aulas são uma resposta à inutilidade do meu pensamento. agora, esta quarta me faz lembrar mais das minhas aulas corrompidas de barbaridades existenciais de como é ou poderia ser o Estado. nem maquiavel, nem mesmo rousseau dariam conta de tanta quarta-feira em toda a semana. quem saberia fazer disso aqui uma análise aprimorada sobre a minha redação profissional? que sejam vendidas todas as calculadoras aos poetas desavisados sobre o resultado da prova bimestral que será calculada à soma do outro bimestre, para no fim, saber quem passou para o próximo obstáculo. o próximo cálculo de faltas e notas, pois no fim é disso que vale uma sala de aula!

30 maio 2006

do desaviso


quase improviso com esta vida.
a mesma que me engana quando
pareço seguro. quase acredito ser um ente
social no que me cabe saber dos desavisos
e alternâncias deste tropeço. agora me pareço
querendo atropelar a vida, suas conversas fiadas sobre meu despreparo para ela. rio disso, pois acabo me achando apto a saber de mim mais do que qualquer um. mais que meu próprio espelho. rio de mim. pois sou sabedor de poucas coisas da que ainda tenho que aprender para tropeçar. para enfim, saber um pouco mais dos outro que fazem da vida uma carta de aviso-prévio.

março, 2005

ibirama 2


dentro aqui que se faça sentido. que se fez de lá para cá. sobretudo, compreendi tudo que me diz agora ibirama. contudo, aquele espaço já faz daqui um pedaço de mim perdido em algum lugar dos meus espaços perdidos. revi outras utopias. não daquelas efêmeras e acadêmicas, mas do indivíduo crú. com a mão suja dele mesmo. daquele sujeito que tem sujeito no exercício de sua palavra. redescobri um nó de nós. daquela verdadeira revolução que não parte de um projeto paralizante e homogeneizante de sociedade, mas que brinca de ser sociedade. saraculeja com os velhos tomos da sociologia, da história, da filosofia e da ciência política. revolução que se aproxima muito mais do sujeito lúdico que se vê parte de um amontoado de histórias. o sujeito existe por si mesmo. é sua engrenagem. é sua mania de querer se enxergar mais próximo da sua compreensão de vida. mais próximo do chão, mais vão. que se abra a palavra que quer ser história. mais que se faça pra ser tudo o que se pode e quer ser. ibirama. xokleng. lugares pra chegar na espreita da novidade. o mundo mais novo. mais mundo. mais perto. mais abraçado. mundo mais para aqueles que não fazem parte deste mundo aqui. mundo mais para aqueles que se acham incluidos aqui. para os menos achegados. mundo pra quem quiser chegar mais perto daqui. na direção daquela utopia em rascunho em que os xokleng me chamaram para fazer parte.

23 maio 2006

zoiá


tá ozóis mió pra oiá
tá proiá prozóis
ozóis sam pra sioiá
mais oiá prosói pode inté cegá
num óia prozóis dessa forma
zóis é feito pra si amá
âma ozóis daquela moça
ama zóis, ama
ama pravê como é bom zoiá pra ela
quando ela num zóia nóis

20 maio 2006

conversa em tempo

aqui, o tempo. o definitivo tempo. dois flamenguistas. eu, flamenguista por causa dele. ele é avô por minha causa. em tempo de duas pessoas. largas gerações. sobre ele o tempo. sobre mim ainda algum tempo. restamos muitos largos sabores dessas duas criaturas. e sabem se falar. ele, quase tudo repete mais. eu, um signo tolo que marca o relógio que se passa na parede da casa antiga. e o velho logo ali, ao meu alcance. ele de 1920. eu, 1971. que tempo mais nos falta pra completar o laço de estrada? ele sabe das dele. eu - ainda me faltam sobre as minhas. dele se soube, junto com a edmeia, criar 4 filhos. de mim, mal de mim sei saber! eu mais camila. eu mais camila. e que me acalma. e que me amarra em mim de tal forma que não me desato daqui tão fácil. eu de barba, ele com o clássico bigode. sempre de bigode. eu às vezes sem a barba. me cansa. ele que me levava pra andar pelo bairro da tijuca. eu que gosto de lembrar do bairro da tijuca. eu me digo tijucano. ele, flamenguista! eu nem tanto mais, até o próximo campeonato! eu que desenhava naquela pança pra lembrar que tinha alguém dentro daquela casa. desenhava, e ele gostava. ria. beijo aquele rosto com o gozo infantil das melhores molecagens que se pode inventar. esse é o meu homem. o macho que me dá a mão. e que mostra o caminho numa velha fotografia.

19 maio 2006

rasura

rasura de um riso. uma pichada de muro no riso surdo. um riso que ensaia num emproviso porco de rima. sem história pra contar, o fato é que isto daqui é só espaço de um sono ocioso. é só um rabisco pra mostrar que na fundura dos meus atos o que quero mesmo é dar uma boa e violenta risada de tudo isso. rir do absurdo de estar vivo no meio de tanta realidade desprovida de senso de humor.
- eita gente que não sabe ler nas entrelinhas de suas leituras de mundo! ainda bem que o meu é raso, o que facilita pra xuxu o tempo de amarrar os sapatos e sair por aí.

18 maio 2006

a cidade que não é tua


eis que existe cidade mais pra fora do que pra dentro. mais cidade lá fora do que aqui dentro. muito mais cidades fora do que dentro. existem cidades aos milhões, mas que estão fora, não dentro. mais para dentro outro tipo de cidade. quase vila. outro tipo de cidade, que não esta. que não a cidade de ontem. urbana. quadrada. quilometrada. não esta cidade arquipélago. nem a do continente. nem mesmo a do cristo em pedra. mais que cidade, lugarejo. fim de mundo. nem estrada. nem ruela. existe mais como célula. casca. quase muda. essa cidade não se faz de gente. de números. de alfabetos. de nomes. mais de imagem. de sonho. esta cidade é mais pro meu lado. mais vizinha. está muito mais chegada a mim do que esta que não fala comigo. que é bruta. burra. um paralelepipedo constante. cimento. cruzamento. muito burra, mesmo. asfáltica. miserável. um hino ao entorpecimento dos sentidos. a minha cidade é uma vila. pequena. disforme. metida a lugarejo. é mais que metrópole. é a capital dos meus medos. minhas raivas. angústias. segredos. é a cidade que me põe com sono. me desalerta da outra cidade que existe lá fora. aquela que todos repudiam. que ninguém se fala. a cidade de dentro é pra poucos. para os mais atentos. para os mais envenenados. a cidade daqui de dentro é mais pra dentro. é mato. é vilinha. não tem casinha. muito menos apartamento. é mesmo ao relento. a cidade de dentro tá mais pra bicho do que pra gente. não te pede nome. não exige qualidade de vida, muito menos capital. é cidade de poucos. desabitada. cidade que não existe pra fora. cidade que não tem lugar pra mais ninguém.

17 maio 2006

a confirmação da quarta-feira

estado de espírito da quarta-feira de maio. ou melhor, a falta de espírito pra quarta-feira.

14 maio 2006

(foto: felipeprando)

é só caminho. é só caminhada. um rumo. um trampolim. passagem. bagagem. viajante de soleira de imersos pés. imensidão de lugares. todos eles. tudo pra que a gente consiga mais da gente no meio de toda aquela gente. tudo possível num de repente. tudo que não é mais. transformou-se. deixou pra ser pra uma outra vez. uma tola canção. tudo na viagem. uma mochila pra poder guardar do mundo. a sujeira também. a poeira senso-comum de todos os caminhos. o mais dos caminhos. força pra mais de um só caminho. cavuca caminhada. anda. vai. te move. te suma daqui!

sobre meu sorriso

por que saber de mim, mais que mim mesmo? não sei bem disso de saber caminhar comigo! nao sei dessas coisas que a vida nos ensina para sermos mais sabedores de nós mesmos! insisto em não dizer nada mais do que o necessário para encontrar o fim dos meus silêncios. hoje alguém me disse algo como "se eu nao soubesse de mim". louca ironia. eu, sempre sabedor das minhas coisas, agora tendo que ouvir alguém me intuir que não sei pra onde estão as minhas coisas.... agora me vasculho. o que isso tem pra ser dito? no que isso me ajuda pra entender mais dos meus mais?! acho que na verdade não sei viver. não sei dos caminhos que me levem pra outro lado daqui. me finco pra onde estou agora numa falta de exercício sobre os meus descomeços. mas quantos começos já fiz até aqui? quantas ruas já criei? quero a melhor madrugada para que possa definitivamente cantar ares mais amenos, silenciosos e acalentados para que possa cantar o doce segredo da morte. quem me sabe da morte? que me leve contigo pra onde fores! repito, não sei viver de maneira tão objetiva quanto me exijo! sou uma inércia constante. uma sombra. uma falta de assunto que se acumula num noticiário de disparidades. mas quanta dor me aquece por aqui! dessas que a gente convive pra querer mais é se sentir vivo. mas quanto de mim tem em mim! quanto não dizer pra que ainda continuo onde estou! queria um bom remédio pra toda essa minha tolice. que amanhã possa acordar outro. sem essas mesmas repetições do que fazer com esse meu falso sorriso. qual desse peso de alegria e tristeza que me confundem no fundo de uma garrafa? não pareço com a fotografia de infância que se admitia um riso mais solto. não me pareço mais com aquele jovem colegial que andava pelas ruas com sua bolsa e manias de acreditar no movimento das coisas. mundo mais barulhento! até os cachorros da casa são barulhentos! estou um chato! enfurnado dentro de um nó de poucas virtudes, em que não existem mais aqueles em que posso me amar. não existem mais os moços e moças de um mundo que foi ontem. agora tudo é mais real. mais repetitivo. mais constante. quanta mania tola de ver a vida somente pelo lado mais frágil dela. me desconfio por aqui. desafino o tom para romper com as mesmices sentimentais. menos queria saber de mim. menos de mim. queria menos de mim. afastar de mim essa qualidade de negação. ainda me busco na correspondência negada. tudo num avesso de cartas inexistentes. arredias à sua remessa. falsa correspondência de pai e filho. tudo se interditou. o filho e o pai. travado num velho computador. travada a memória infantil. tosco arrependimento pelas coisas nao realizadas. mania débil de esconder a velharia dos meus aborrecimentos. melhor seria se pudesse voltar pro tempo, e descobrir que existo num pedaço de papel cheio de palavras de amor entre meu pai e minha mãe. mas não existe. invento tudo isso! não o existe o beijo de amor entre estas duas criaturas. não existo, pois sou o erro de ter sido o rumo que esses dois assumiram para mim. me culpo. me culpo. me cuspo. me cuspo. nao me engano com meu sorriso. te cuspo se for necessário!

09 maio 2006

Ibirama


aqui pra contar ibirama. experiência sobre ibirama. mas do que é isso? do que é feito? me vem também a seguinte questão: do que sou feito? feito pra quê? quem tem ibirama por aqui? dessa experiência tomada a oito mãos dentro de um espaço em que se conta a violência nossa de cada dia. daquela que a tal sociedade não se quer assumir. existe em ibirama um grupo de indígenas da etnia xokleng, e com ela os habituais conflitos sociais, raciais, econômicos, culturais, e tudo mais que essa sociedade inventa pra não querer se ver! pois é desse sentimento que tenho pra mostrar. a impressão da inexistência da sociedade rousseauniana. do bom selvagem que não existe. da selvageria humana que é inerente à nossa existência. desses caminhos que humanidade tomou sem se dar conta do tamanho da sua arrogância. pois em ibirama tem alemão, xokleng, e pessoas mais que agora não me denunciam sua existência. pois existe xokleng reclamando dos alemão daquela terra. simplesmente não são aceitos. mas acho que existe também a dificuldade de se aceitarem como são. pois antes da condição de índios, existe aquela condição quase que determinante de pertencentes de uma classe social. são pobres. empobrecidos. índios empobrecidos que vivem dentro da lógica civilizatória ocidental. índios que não mais são, se é que me entendem... mas é claro que posso estar errado nesta análise barata e sem profundidade. é só uma versão/interpretação possível que os meus sentidos perceberam na primeira aproximação. não quero com isso dizer que estou também inventando qualquer tipo de realidade, apenas consigo ver o que o discurso utilizado por eles (os xokleng) me deu para conseguir chegar até eles. eita condição mais desconfortável essa de alguém que chega de fora cheia de conceitos pré-elaborados para querer dizer que o mundo como está não dá para continuar! eita, minha arrogância! santa ignorância de repetir alguns dos meus professores, querendo cuspir respostas a serem anotadas e firmadas num cartório de verdades servidas no banquete da razão. da ciência que fuma e bebe a leitura de um mundo preso a si mesmo. que inventa pouco. que brinca menos ainda. eita que ibirama é um mundo de conflitos! disso nenhuma dúvida, pois é claro que a tal améria latina se faz de uma história recheada de contradições em ser ou não ser européia/civilizada/branca/ordeira/evoluida/moderna e tudo mais que possa significar estar longe de suas origens. é querer se desconhecer por completo. quem sabe ibirama não tenha qualquer coisa disso? saber de ibirama é ter a certeza que o processo civilizatório ainda não acabou. ele se afirma na condição de que o brasileiro ainda está sendo feito! pois o xokleng só será aceito no momento em que deixar de sê-lo.

04 maio 2006

conversa nº 2

maneira solúvel de amanhecer:
sem a cueca.
nu diante dessa mulher.
meu fétido corpo que se nega sobre a condição de sê-lo,
formando constrangedoras manhãs.
as que dividem o reflexo ao meio.
num meio sem imagem.
sem metade.
nu
diante de si mesmo.
sem fronteira movediça que me leve de mim.
que me distraia entre uma rusga e outra.
que forneça o querer medido de
todos os leitos sobre mim.
de querer ser da mulher, sua fêmea.
sendo-a quando gozo.
sendo-me quando me caio.
faxina sem hora extra
que desarruma os meus passeios da casa,
que contrai o sexo ereto,
e infla numa dor demasiada,
que me soletra entre uma mijada de cerveja e um arroto de coca-cola,
forjando o dia em que permaneça só diante de mim.
solvendo a intrusa desatenção sobre o que me pesa.

março, 2004

02 maio 2006

não-desenho


isso aqui é pra me repetir mais de uma vez. desenho e palavras que se repetem. sim, sou repetitivo. faço análise, afinal! por isso trago este não-desenho para cruscificar ainda mais a minha falta do que dizer. que isso me redima! trazer a minha falta de imaginação, de critérios de escrita, falta de argumentação, falta de teoria, falta de vivência, falta do escambal a quatro... isso mesmo, reclamo aqui a minha falta do que fazer. falta de responsabilidade diante de mim. falta de crédito com o banco. falta de recibo do pagamento. do atraso do pagamento. e agora, até a falta de apertar a porra da embreagem na passagem da marcha. passar embreagem é ciência. dizem que se aprende mais com a prática. mas é ciência. é mecânica. me falta até a marcha do carro. falta o inglês pra passar na prova. falta a devida coragem pra ligar o gás. eita que encruzilhada! eita que mundo mais velho. faltam os amigos que se escondem no meio de si mesmos para não conversar mais sobre a vida. falta critério de vida. falta de assunto. falta meu pai. ou pelo menos o que suspeito de sua falta. até a minha velha bronquite voltou! agora, sou eu e a gata tarsila ronronando no meio do quarto. falta minha segurança diante das viradas da vida. falta dar embalo no carro pra puxar a 2ª. falta ganância. falta vergonha na cara. mas parece que me falta tudo! sou um exagerado! sou como o desenho que rascunhei aí pra cima: o desenho que ainda vai ser. falta aprender melhor da vida. falta que me faz ser uma tarde de sábado no colo de camila.