trapézio humano
é minha quase flor. retrato dela. uma flor escurecida. grávida. flor para poucos. quase nenhum a conhece. quase que ela também se desconhece. flor pálida. num leve rastro chego para ela com minhas tolas intenções. arredia. sabida dela. arrependida da vida. de ter com ela se criado, e ainda ter acreditado na lábia do bom jardineiro. flor de ocasião. flor pra mais querer saber dela. mais girassol. mais do jasmim, e que agora ela sabe o que é. sempre mais dela. sem arrebentar de vez suas raízes. de leve. devagarinho. arranco dela as tais ervas daninhas que insistem em crescer ao longo da pouca sombra que faz. flor mais bela. coisa mais bela que pode existir. num dia em que de repente cansei de olhar pro céu dirigindo meu safado olhar para o chão desavisado, em que quase piso naquilo que tem mais de mim do que qualquer outra forma de vida. minha quase flor é flor pra mais de jardim. pra mais de mim.
a esta coisa que se escreve e desenha melhor seria se fosse num papel. melhor seria se pudesse ser meu desenho num resto de papel. numa pedra. numa concha. toalha. que se escreve por aqui é colcha de retalhos já descritos por muitos antes de nós. já rascunhado e soletrado mais de mil vezes, mas é para que não nos esqueçamos que de alguma forma existimos num mundo cheio de emoções duplicatas. sim, que são parecidas num enredo mágico-trágico que muito agrada aos transeuntes do passeio. o risco que dou por aqui ao lado faz parte dessa minha mania de sentir por perto os desejos de existir, e me fazer existir por algum lado desse arquipélago. são as minhas noções. meu senso-comum que me agrada. que me engana. os riscos ao lado são riscos de uma parede de algum lugar da minha memória. são os riscos na pedra eletrônica. fragmentos de alguém que se perde por aí.