eu de mim

24 março 2007

Boi Moca

figura carimbada nos quintais do campeche, o boi moca, foi apresentado a mim no meio de uma andança pra praia. diz ele fazer parte de uma linhagem bovina importante. seus antepassados estavam no casebre em que nasceu um tal menino, filho de carpinteiro e mãe de nome maria. mas lá estava o bicho ruminando seu matinho, ele com mais três bois, que confesso não saber o nome. mas lá estava moca devastando, com a boca, os matos que restam naquele alagadiço. boi moca é um artista, diz que faz obra de arte daquilo que come. e como come! boi moca é um bichano de muita criação... criatividade. talvez até bom coração. seu interesse pela literatura atravessa até guimarães rosa, chegando próximo a um monteiro lobato, pois ele acredita que jeca tatu seja seu mito de construção. e que o braZil deve à sua espécie o espaço territorial nacional. estranho esse boi! boi moca parece saber das coisas. olha para o pasto com a vontade de romper os grilhões que está submetido todos os dias. além de comer bastante, boi moca, também caminha. o terreno é bem amplo para aquelas pesadas passadas. é um atleta! diz ele que está se preparando para seu mais novo empreendimento. virar boi de mamão. bicho encapetado. ou quem sabe frequentar disfarçadamente uma farrinha de boi para ver como é que é desse negócio que os manezinhos brincam pra se fazer lembrar de sua cultura e tradiçao. o boi quer saber entender disso. o boi moca parece saber das coisas. boi moca rumina, caminha, muge, é grunge, é malhado, é cruscificado, é tourado. é bicho bonito que diz ser melhor a condiçao de boi do que a de ser humano, pois pelo menos sabe qual o espaço de liberdade que lhe cabe, e pra que serve a sua espécie.

21 março 2007

sobre paternidade

lá, sozinho, eu inventei um pai debaixo da cama...

12 março 2007

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11 março 2007

coisinha

essa distância de estar perto
desse fundo de palavras que se esvai por paredes altas
mais dessa mudança que me acometo
deste cuspe na cara
em que os sábados ficaram mais pra domingo
dessa minha volta por dias vencidos
o que me sobra são os dias sem olhos que me comiam
sem a gafe de lhe dizer que não são deles que me afetam
mas dos laços que não inventamos
pois são deles que tenho aqui
com todo o nó preciso
d´eu atado aos bancos da praça
aos bancos de viagem de ônibus
dentro de uma caixa de boas novas
dentro de um tudo que faz sentido ao desalinho das pipas
d´eu mais que fundo no fundo daqueles versos todos
sem que me faça pra você como uma escrita "desbotada"
mas que se valha como força e forma ao parapeito dos sentidos
pra que se vislumbre a brincadeira de amarelinha num dia de sol na praia.

10 março 2007

do exílio

"Eu não devia nem tentar pregar; ainda assim, aviso que, se você se sente capaz de mergulhar num 'exílio interno' e viver contra a corrente, pode esperar algumas noites negras da - vá lá - alma. Mas dedicar-se a isso e depois procurar uma ajuda externa ou invisível seria certamente não entender a questão. Certo grau de solidão e resignação é necessário para começar. Algumas pessoas não conseguem suportar a solidão, muito menos a idéia de que os céus estão vazios e que nem sequer conseguimos perturbar sua surdez com nossos gritos inúteis. Ser um exilado ou um proscrito numa praia remota - muitas mentes fogem aterrorizadas e procuram alguma fonte de aconchego. Só posso dizer que o conceito de solidão, exílio e auto-suficiência me encoraja continuamente, e não apenas quando comparado ao horror do Eterno Paternalismo. (E quando confrontado com esta realidade crua pode-se também aprender a tratar seus colegas exilados com mais consideração e respeito. Mas não peçamos o impossível.)

(Christopher Hitchens) "Cartas a um jovem contestador"