eu de mim

24 fevereiro 2007

97º

faz distante momento
faz rio
faz aguaceiro de promessas suicidas
mas vai caminhar
vai luzir qualquer dinâmica de vida
que te sirva de falsos lamentos
não resfrie a água quente
beba assim mesmo
sem provérbios
sem as rezas de sempre
sem orkuts que mal se falam ao se falarem
chega dessa toda incapacidade de ver as coisas
mais pro diálogo sem telefonemas ou msns
sem telefone público
nem mesmo mais chamada a cobrar
mais vale ver a palavra perto
sem o vazio do eu mesmo
dizendo que tudo é aquilo que não é
mas poderia ser
mais vale ser
do tiro na cara que pode ser dado
do verme que não sabe que é
desse perdão que pede ser perdoado
nada vale por aqui
nem cheque
nem beijo
quase duas semanas perdidas
sem metas
só frio e suor
pesadelo e insônia
dos diabos que carreguem
pro limbo das coisas fajutas
fracas
sem a força merecida
pra mostrar que poderia ser diferente
mas queria que fosse diferente
sem ele por perto
nestas palavras sem conexão
sem paixão
sem vontade
ver que o espelho foi mais forte que a própria imagem
que não conseguiu sair do baú de velharias
que menos sabe o que sabia
daquela viagem do mês de janeiro
que não soube voltar de lá
e nem ele, nem ninguém soube disso
nada de happy ends
nada
foi foda
foi merda na alma
lâmina sacana
ninguém mais sabe disso do que ele próprio
dessa dor antiga
em que os labirintos parecem ter aumentado
tios
primas
irmã
avó
e pai mortos
vi o falso túmulo do pai
coisa mais falsa
nem datas
nem a data sabiam
nem dele sabiam
nem deles mesmo sabem
pobre família!
pobre disso tudo que não tem saída
e ainda escutaremos que isso aqui é escrita de alguém que não sabe nada da vida...
sim, sem valor literário, por favor!
e tem mais sono
do patético homem que nao é
o pateta
o patético homem que nao é
o patético
o patético
o gozo patético
masturbaçao patética
patéticos
patetas
e todas as muletas do mundo
e todos as mulas que se unam
pra menos saber
pra mais saber
pra nunca saber
pra sempre saber
que isso tudo aqui é letra de marcha
marchinha do falso carnaval
marcha patética
que não perdoa nem a si mesma
nem mesmo tentativa de apagar tudo isso
vai assim mesmo
com todo erro
todo erro
todo mundo pros dedos
arrumem os dedos
pois melhor quem indica primeiro...

18 fevereiro 2007

eu de mim

acabei de me ver dentro de um ônibus. livro colado nas mãos. procura de menos silêncio pra rascunhar melhores palavras que sirvam de tradução. acabei de saltar de um ônibus em movimento. tudo em susto. 60km/h. cabeça no asfalto. ruas de carnavais. e minha folia é uma máscara amarrotada. mas consegui preservar o espelho. ver da imagem que segue pra correr pra algum lugar. sigo por horas. caminhadas largas e o pé doendo. nervo pra fora. vomito de agora. meu almoço em mesas vertiginosas. todo assombro pela avenida. foliões de santo antônio. o maracatu dentro de mim. soltou fogueira. lascas de pedra pra abrir a cabeça e tudo poder mudar. em mudança de tudo. rumo. fumo. durmo. soturno. em minha noturna fumaça de vida. com minha escrita pobre. e meus cinemas para serem lidos. e minhas conversas para serem reescritas. fundidas na invenção do amanhã. pois me invento mais disso que me desgoverna. que me fere a ferro quente. que pela madrugada costumo sonhar coisas boas. e mundo que gira. fere a mudança. fere aqui. fere mais que pra dentro. donde não consigo ver. quero pra agora toda mudança necessária para que consiga ser aceito por mim mesmo. nem mais ninguém, apenas eu de mim.

12 fevereiro 2007

miséria

não me resolvo bem com as minhas misérias.

09 fevereiro 2007

quarta-feira


sem desenho


08 fevereiro 2007

daqui do chão

daqui me falto aos berros. em busca da palavra ouvida. sem rasura. flerte com uma espécie de verdade. que encarne bem a febre de janeiro. do corpo que caiu. daquilo sem poema. daquilo que é menos cenário. menos repetição. mais fotografia. menos novela. muito mais próximo. da desconfiança do passado sem mistérios. de um presente que sempre foi mais ausente. quero o flerte das possibilidades diárias. dos desvios. dos tombos. das quebras de muro e cara. da barba crescendo. do menino me fugindo da mão. num rasgo de ouvido. do chinelo na cara. da porca miséria humana que disfarço na mentira da missa de domingo. sem convênios com a felicidade rápida e fácil, e sem financiamento. quero tê-la por ela mesma. retumbante. flacida de tanto rir. que seja um bom esconderijo para os "abandonos" do cotidiano. como prece que não represa o ar rarefeito paceño, suavizando-se com uma deliciosa salteña e um assanto à calle vicenti 455. como pedaços de memória infantil que se guarda dentre as boas coisas de uma vida cheia de talhos, e que se conserva ao direito de arrebentar com o peso das pedras de um tal muro donde as coisas são criadas para uma tradição de tragédias. que se tornem quintais da casa do morro pra que os bichos mordam com os dentes, dilacerando aquilo que não tem nome. fortificando novos endereços e destinos. novas boas novas. da mutalidade de um comprimento de ciclo. pra dizer das boas maneiras de arcar com os desafetos do momento. e virando foto. quadro a quadro dentro de um retrato disso que não consigo dizer ou dar nome. mas que sirva como algodão aos ferimentos daquilo que chamam alma. daquilo que também é chão.

07 fevereiro 2007

des-bolívia

sem breque. ladeira abaixo. comboio de loucuras parentais que se comovem na andança de velórios sentimentais. cordilheiras costumeiras que se abrem aos trópicos daqui. nem mesmo verso que caiba minas de potosí. suas faltas de estradas. seus arremedos de civilização. cholas e tolos. todos num descabido de terras partidas. não existe o espanhol. não existe cá o português. nem a língua. nem latim. mas a palavra das amarras colonias que parecem se desfazer em novos fazimentos. novas cadeias. novas masmorras. novas liberdades. isto é uma gente que se diz em silêncio. que berra pra dentro. grita comigo pra que algo caiba mais dentro aqui. os movimentos sociais se dissipam frente uma egotrip sem tamanho. quer mais horizonte. mais gente rindo à toa. tudo ainda mais à toa. rindo à toa. força que vai do indivíduo pra dentro de casa. e que se transforma. que se monstrua. também se perde. se fede. os engodos passados ficaram para as moscas desconfiadas do gosto da merda toda. às moscas, seu ddt mais que merecido. que se fujam daqui, pois o moço da casa tá mais pros cachorros e pra moça. tá mais pra vida que pro silêncio dos médiuns intelectuais que se verbalizam numa alcova de poucos gozos. tá mais pra tom zé. mais pro verbo rasgado das bem-vindas amizades. pois gosto delas. cativo-as para que sejam mais sempre aqui. pra que distanciem cada vez mais aquelas moscas varejeiras que mais peidam dos desconhecimento alheio como víboras que se transformam na pele de um falso profeta. mais pra dentro. e sem a tal da psicanálise que me prega um parafuso a mais diante da racionalização de um sentimento devido. atrevo a concordar que o mundo é mais pra lá, do que cá comigo. é menos umbigo e mais pro abraço do braço devido. menos "abandono" e mais a presença de si mesmo. mas em tudo isso me começo a dizer que tô mais pra hoje do que pra ontem. talvez seja mais lennon que o macacocartney. e pra agora, sinto que ainda voltarei às minhas metáforas, pois delas sou mais sincero que a cegueira de um borges... e mesmo da minha falta de leitura às letras civilizatórias do bom-senso literário... pois leio o que bem me quer. aquilo que atinge meu hálito, pra que sirva de hortelã ou pura merda. mas que se diga dos olhos abertos e carcomidos que de leitura não me falto, (repito) pois mais pro mundo do que pro próprio umbigo.

02 fevereiro 2007

outra de viagem

Gilfredo:

nem pedra
nem arrimo
nem homem
nem menino
qualquer metáfora
menos diabólica
que aqueles que
retive numa certa
memória
de eu
menino.

janeiro2007

alguma coisa de viagem

alguma coisa que escrevi em viagem:

vinhos em Tarija
os caminhos desta cidade em
vale de muitas
estradas e
gentes pela calçada
tudo meio caótico
meio que colocado no
desafogo dos dias
toda essa gente pouco e
muito familiar
e pareço mais comigo
mais sozinho e
mais parente desta
estranheza de não parecer
com nada mais
sou eu solto por aí...

janeiro2007