eu de mim

14 maio 2006

sobre meu sorriso

por que saber de mim, mais que mim mesmo? não sei bem disso de saber caminhar comigo! nao sei dessas coisas que a vida nos ensina para sermos mais sabedores de nós mesmos! insisto em não dizer nada mais do que o necessário para encontrar o fim dos meus silêncios. hoje alguém me disse algo como "se eu nao soubesse de mim". louca ironia. eu, sempre sabedor das minhas coisas, agora tendo que ouvir alguém me intuir que não sei pra onde estão as minhas coisas.... agora me vasculho. o que isso tem pra ser dito? no que isso me ajuda pra entender mais dos meus mais?! acho que na verdade não sei viver. não sei dos caminhos que me levem pra outro lado daqui. me finco pra onde estou agora numa falta de exercício sobre os meus descomeços. mas quantos começos já fiz até aqui? quantas ruas já criei? quero a melhor madrugada para que possa definitivamente cantar ares mais amenos, silenciosos e acalentados para que possa cantar o doce segredo da morte. quem me sabe da morte? que me leve contigo pra onde fores! repito, não sei viver de maneira tão objetiva quanto me exijo! sou uma inércia constante. uma sombra. uma falta de assunto que se acumula num noticiário de disparidades. mas quanta dor me aquece por aqui! dessas que a gente convive pra querer mais é se sentir vivo. mas quanto de mim tem em mim! quanto não dizer pra que ainda continuo onde estou! queria um bom remédio pra toda essa minha tolice. que amanhã possa acordar outro. sem essas mesmas repetições do que fazer com esse meu falso sorriso. qual desse peso de alegria e tristeza que me confundem no fundo de uma garrafa? não pareço com a fotografia de infância que se admitia um riso mais solto. não me pareço mais com aquele jovem colegial que andava pelas ruas com sua bolsa e manias de acreditar no movimento das coisas. mundo mais barulhento! até os cachorros da casa são barulhentos! estou um chato! enfurnado dentro de um nó de poucas virtudes, em que não existem mais aqueles em que posso me amar. não existem mais os moços e moças de um mundo que foi ontem. agora tudo é mais real. mais repetitivo. mais constante. quanta mania tola de ver a vida somente pelo lado mais frágil dela. me desconfio por aqui. desafino o tom para romper com as mesmices sentimentais. menos queria saber de mim. menos de mim. queria menos de mim. afastar de mim essa qualidade de negação. ainda me busco na correspondência negada. tudo num avesso de cartas inexistentes. arredias à sua remessa. falsa correspondência de pai e filho. tudo se interditou. o filho e o pai. travado num velho computador. travada a memória infantil. tosco arrependimento pelas coisas nao realizadas. mania débil de esconder a velharia dos meus aborrecimentos. melhor seria se pudesse voltar pro tempo, e descobrir que existo num pedaço de papel cheio de palavras de amor entre meu pai e minha mãe. mas não existe. invento tudo isso! não o existe o beijo de amor entre estas duas criaturas. não existo, pois sou o erro de ter sido o rumo que esses dois assumiram para mim. me culpo. me culpo. me cuspo. me cuspo. nao me engano com meu sorriso. te cuspo se for necessário!