eu de mim

07 abril 2006

sobre os bichos da casa

esses bichos que habitam o quintal e a parte interna da casa se fazem quase como crianças. quase crianças! dá pra olhar para os olhos da bicharada e ver neles qualquer coisas de indivíduo. suas parecências e diferenças. seus traquejos com a linguagem. suas metáforas corporais. seus engates de charme e beleza. eita bichos que sabem como dizer as coisas! são 3 três cachorros e um gata. duas fêmeas e dois machos. o equilíbrio perfeito. mais que perfeito. servem, não como distração, mas como a própria atração das intenções caninas e felina, num corre-corre infinito. chegam pra quase abraçar. lambidas e cheiros. odor de cachorro. de gata. esses bichos se fazem importantes, porque sabem o que representam. cada um se reconhece como fazedor de um pedaço daqui. os bichos desta casa sabem tudo dela. não existem segredos. pulam janela. desarrumam o sofá. atacam o meu sono. despenteiam camila. e sabem mais. sabem chegar. são conquistadores! esse bichos sabem da gente. cuidam também. certa vez um deles se colocou, mansamente, entre nós num momento de crise conjugal. foi o fim dela. são quase amuletos. não nos censuram. admitem nossas vergonhas. nossas tritezas. e ainda nos lambem. nos esperam. esses bichos sabem mais da gente do que nós mesmos. são as feras da casa! não se aproximem, pois eles podem fazer com que vocês nunca mais os esqueçam. como já disse, são conquistadores! sabem da linguagem do charme. se utilizam disso como tática pra ganhar cada vez mais um espaço dentro da casa! dois já conseguiram! acho que isso é a verdadeira revolução dos bichos. chegam devagar. vão tomando pedaço a pedaço sem que nos demos conta. vejam, já tem chicão (um cão) dormindo na sala. e tarsila (a gata) no seu trono acolchoado. mas sabe de uma coisa? o que me fala mais deles não é companhia que nos fazem, mas a própria beleza do discurso de cada um. cada um com suas interpretações de mundo, e nós, pelo menos eu, criando interpretações a respeito dessas criaturas que são mais uma alegria de convivência e aprendizado, do que uma relação assimétrica e esquemática entre seres vivos.