eu de mim

30 novembro 2007

dança guarda-chuva

outro dia outro caminhando pela rua do centro da cidade essa e com o guarda-chuva aberto fiz dança do mesmo pois no meio do traçado do passo vinha outra caminhante também desatenta e daí começamos nossa dança de sombrinhas quando ela sorriu dança de chuva e sorriso simpatia vitalidade de situações inusitadas que guardam qualquer beleza novamente revelada.

pessoal demais

os senhores absurdos de uma via em retas discretas. o senhor de barba acocorado cavando sobre si a rima sincera. o gozo repentino repetindo falas diretas. a metamorfose do corpo. envelhecimento. o riso menos frouxo. o caralho das escutas alheias. essa coisa de mesa em que os bares não se bastam pela pinga que se bebe. falta aquilo mais. é como caminhar entre horizontes pessoais e colher o que melhor te serve. por isso também escrevo. para explicar os monstros e moços que de repente cansam de assombrar para assobiar uma música de ouvido. cantar também passarinho. arapuca. araponga. na pomba do susto. como asas estalando na cria do vôo. mas o que mais comove dentro de toda essa caça de sentido são as mãos dentro do ônibus.

23 novembro 2007

ximbicamila

palavra-nome para o principiante : ximbica (mas que também poderia ser com "ch") foi palavra ouvida pela primeira vez no filme "dona flor e seus dois maridos", pronunciada e anunciada por vadinho.
esta palavra além do que se refere, tem o cheiro, o gosto da medida necessária do que ainda seria. coisa não muito séria, mas com a devida seriedade de tudo. tem toda essa fantasia pelo tato. a aspera e doce linha de um sulco fechado.
a fala entre a língua e a boca na pronuncia mole que a matéria exige.

27 setembro 2007

auto-crítica da escrita

meu texto pequeno. bufão. sem jeito. raso. vadia de rua em rua. pelas calçadas molengas de uma tarde de sexta. reclama. sofre. remedia a ignorância. é vão por ai. sucumbe. agrega valor. consome gás. filtro das merdanças diárias. mediocriza a letra literária. sucumbe diante da polifonia dos sentidos. se repete. desgasta. castra. foge ao sentimento. adormece. funga o cu alheio. retira-se da passagem olheira dos que aqui se passam. quer fitar mímica do teatro cotidiano. a escrita é fraca. não tem a consistência necessária do tempo. mas se serve pra vã mortalidade de quem parece ter de matar um filho-da-puta por dia. sim, me parece honesta. sem rodopios semânticos que podem cansar ao leitor em desalento. é um rosto no meio de tanta cara uniforme. cria seu movimento. sua rota. soletra letra de música. é sinal de campanhia da casa da memória. pois explico por aqui, em algumas passagens, o caminho de memória que sofro. pois sofro de memória! sofro de saudade! das amizades feitas e desfeitas, e por aquelas que de alguma miséria também terão mesmo destino! a escrita daqui se serve pra isso. pro convento das minhas idiossincrasias. para o alarde do sofrimento e da alegria de estar vivo. por isso, convido-os a fazer parte dos dias dessa bagunça de quarto. pois assim me parece a casa da minha escrita, em que rodopio e danço com a música que pode, repentinamente, ser alterada. é quando tudo pode ser novamente vivido para desalinhar a conveniência do álbum de família.

26 setembro 2007

desta casa que me chamo

estranho dizer isso, mas tenho a sensação de que estou donde tios já estiveram. olhando pra fora. cortando as luzes da casa pra mais melhor ver do escuro das coisas. estrelhinhas. e estranhamente estou aqui dizendo que de alguma forma parte disso me faz. o estranho de ser a comunicação e o diálogo dentre todos esses que já me falaram zilhões de vezes. tudo cabe num prato pra melhor comermos cada pedaço de gente. cada pedaço de voz. é a antropofagia do lar. tornar tudo mais estranho e familiar. é o distanciamento dos movimentos cotidianos, fazendo perceber em qual retrato fico melhor. mais leve. numa leveza que possa parecer com o olhar canino dos bichos da nossa casa. não sou o estranho que dita isso. sou mais parecido comigo desse lado das coisas. mas que não tomo a distância para esquecer de onde venho, pois disso não me valho. mais vale saborear as pessoas que se fazem para ver o que nelas também sou.

20 setembro 2007

bom cidadão

bom cidadão é aquele. aquele que mais se veste de consenso. daquele que mais presente dá à sua mãe. e não quer comer a mãe de maneira alguma. mãe é algo são. santa mãe de deus. cidadão é o bom sujeito que não abre mão de se olhar todos os bons dias para dizer a si mesmo: "vinde a mim as criancinhas". parafraseando, obviamente, um sujeito que era anti-cristo mesmo sendo ele mesmo o próprio jesus. o tal cidadão mais se parece com um pau-de-sebo. aquele bem liso. lisinho. quase orgânico. fálico. o ensebado cidadão preza por suas fálicas palavras que parecem nunca falhar. é gozo pra toda hora. lambuza-se de boas intenções. poliana por condição. a sociedade boa é a questã. pois é nisso que acredita: no bom mocismo como convicção de que aqueles pobres índios devem ser catequizados dentro da civilidade cristã. e que o nó da gravata seja no máximo o nó da garganta. o bom moço é pra aquele que mais se perverte de humanidade. que menos encherga o fio do conflito. essa danada cidadania fajuta condiz com o aprendizado de um ocidentalismo sem caráter algum, em que a humanidade dos direitos humanos se fazem em grande medida para os cabelos cobertos de uma certa gomalina. e falando nisso, visse o cabelinho do tal homem-de-bem?! é a plástica do caráter! quer se parecer menos idiota do que parece. é sem gosto. isso mesmo, o tal cidadão-de-bem calha por se fantasiar de fanfarronice. é um bom pregador às ovelhas idiotizadas! pois como já disse, a óstia consagrada é o máximo que se pode morder do corpo.

14 setembro 2007

)des(escrita

não nunca mais língua por aqui
de uma reza pagã que sataniza os podres moribundos
visita ao cadáver que um dia radicalizou a palavra
pôs seu uso razoavelmente racional e se expôs tolo
refinou o discurso e sentou no vaso
cagou cada uma das melodias bem usuais de qualquer marchinha que contenha um refrão
facilitou assim, a canção de rock n roll - disse radicalizou total
marginalizou sua intençao de subverter a ordem
ordenando que todos entoassem o mesmo canto
novamente se fez sobre sua presença o espelho ego
beijando seu cú pra lamber a si mesmo
provocando suspiros na imensa platéia de pobres diabos
sobre sua ignorância do que de fato acontecia contigo
sobre os arredores das ruas repetidas da cidade insular
quando de cachorros é que se fazem boas notas musicais
bons retratos de si mesmo
sem que a razão se parece como algo da genialidade humana
pois o porco animal humano pouco ou nada sabe dos vermes que facilitam sua chegada aos ossos do bom caixão
quando isso mais pode parecer um verso cheio de bondade e botox numa escrita feia e de caligrafia nítida.

13 setembro 2007

a moça

a menina da foto tem seu chapéu
blusa listradinha
olhar sem susto, mas desconfiado
a moça da foto tem chapéu de quase palha
as mãos tensas diante da programada fotografia
azul listradinha
golinha branca
botões brancos em detalhe
tem rostinho de menininha
dessa menininha quero colar figurinha
fotinha infantil
talvez aos 12 anos
mas que é paixão, isso não resta dúvida
e temos entre nossas fotos de várias fases de infância
coisa bonita de vida em que nos fazíamos desde lá!